Telhados vivos – O retorno ao óbvioLiving roofs – Returning to obvious

 Por Ézio Moura Rinaldi
Civilizações antigas já se serviam desta técnica simplesmente porque tornava o ambiente mais fresco e suportável. Com o desenvolvimento das tecnologias, abandonou-se esta técnica substituindo-a por sistemas de ar condicionado e muitas outras alternativas que consomem energia.

Com a expansão das cidades, o uso desordenado do solo, a concentração de carros e, consequentemente, a utilização necessária de asfaltos de pavimentação, estas mesmas cidades tornaram-se quentes e impermeáveis às chuvas, aumentando a temperatura média em alguns graus Celsius, o que aumenta a evaporação e resulta no efeito estufa. Esta mesma cidade sofre com enchentes, esteriliza o meio ambiente expulsando a biodiversidade e mantendo apenas aquelas espécies que podem sobreviver dos restos humanos, tais como ratos, pombos, e outros que proliferam doenças nocivas ao próprio ser humano.

O panorama se torna cada vez mais complexo e difícil de corrigir, pois além disso tudo ainda é necessário levar alimentos a toda esta população. Estes mesmos alimentos são produzidos em locais distantes, requerendo refrigeração, transporte e uma enorme infra estrutura. Não bastasse tudo isso as grandes cidades tornaram-se fábricas de CO2 e outros poluentes e não há filtro que funcione para limpar o ar e, devido a isso, vivemos respirando sujeira. Mas o pior é que já atingimos a barreira de 400ppm de CO2 no ar, e isso vai levar a um aumento da temperatura global em 2 a 6ºC, o que será uma calamidade.

A natureza “estudou” durante milênios talvez milhões de anos quais as soluções mais eficientes para manter o equilíbrio dinâmico entre estes atores e teve sucesso. Prova disso é a incrível capacidade que ela, a natureza, tem de se recuperar das nossas interferências, fazendo brotar um pé de tomate no meio do concreto. Ou seja, se a natureza tiver a menor possibilidade de trazer o equilíbrio de volta ela o fará, mesmo que nós humanos não queiramos. O menor descuido e lá estará outra planta no lugar do tomate que arrancamos porque estava deixando feio o nosso muro ou calçada.

Tão inteligentes somos que, em vez de nos servir de um processo testado e consagrado de equilíbrio, preferimos, ao custo de nossa saúde, lutar contra. Se em vez de colocar amianto sobre nossas cabeças colocássemos um gramado, ou talvez uma horta, por mais simples que seja, teríamos a natureza a nosso favor, limpando o ar, convertendo o nosso CO2 em oxigênio, contendo as águas da chuva, fornecendo alimento para os pássaros que irão competir com os pombos, diminuindo sua incidência e a consequente proliferação de doenças, e ainda reduzindo o calor em nossos lares e na cidade como um todo.

Porque não se faz isso então?

É tão obvio que mesmo uma criança consegue perceber seus benefícios apesar de não ter a cátedra necessária para entender o processo em sua totalidade.

Será que não temos tecnologia suficiente para fazer isso, e assim nos retraímos?

Certamente não, pois existem tecnologias que permitem fazer isso. Tecnologias que, além de estanquear a água da chuva dentro do jardim suspenso, ainda é resistente à ação das raízes das plantas e é feito à base pneus recuperados (aqueles mesmos pneus velhos e carecas que jogamos nos rios ou nos poucos jardins mal cuidados que ainda temos, para servir de criadouro de mais doenças que vão assolar a nossa saúde).

Esta mesma tecnologia faz uma barreira de apenas 0,5 mm de espessura, não requer processos complexos para aplicar e por ser tão fina e leve permite fazer telhados verdes com baixa carga morta. Esta tecnologia permite sim fazer telhados verdes com baixo custo, alta performance e ainda reusa a pneus velhos e perigosos.

Substituindo-se um telhado padrão por uma laje e aplicando-se esta tecnologia, pode-se construir um jardim suspenso onde as crianças podem conviver com a natureza, onde podemos plantar aquela alface “orgânica” que pagamos tão caro no supermercado, ou ainda temperos que podemos dar aos nossos vizinhos tornando a nossa convivência mais saborosa em todos os aspectos. E estaremos diminuindo as enchentes, retirando CO2 do nosso ar, fixando a fuligem em um substrato que poderá ser naturalmente convertida em terra útil.

Se ainda não estivermos convencidos, podemos lembrar que a evaporação desta água retida no jardim baixa a temperatura em nossa casa, tornando nosso viver algo mais agradável, e morar passa a ser de novo uma ação de família, pois muitas crianças vão querer aprender a plantar, cuidar do jardim, tornando-se futuros biólogos, naturalistas e defensores do meio ambiente.

Que não seja por falta de tecnologia! Ela existe. Veja em www.comoveda.com.br. Também não é por falta de vontade política, pois muitas cidades já oferecem redução de IPTU para quem tiver telhado verde; não é por falta de recursos financeiros, pois o BNDES fornece os subsídios para tal.

O que falta então?
Coragem, bom senso e cidadania. O que falta é olhar para nossos filhos com o amor que olhamos e lembrar o tipo de ambiente que estamos deixando para eles. Que tipo de mundo eles vão herdar de nós. Pensar que eles vão nos ver como a geração que emporcalhou o futuro deles. Que tomou deles o direito de ver um beija-flor ao vivo (para o que basta um jardim e um potinho com água doce). Não é tão difícil, nem é tão caro. E você mesmo poderá aproveitar tudo isso. Poderá curtir seu fim de tarde em um local fresco, gostoso, perfumado. Você ganhará uma área de lazer e bioterapia em sua casa, em seu condomínio. Afinal, para que serve uma cobertura de cimento em seu prédio se ela não te traz nada além de despesas? Você passará a olhar pela janela e ver muita área verde em sua volta. E não precisará mais sair da cidade e morar longe, gastando mais combustível, poluindo mais e sofrendo de stress só de pensar nas viagens diárias.

E você que projeta, cria, constrói; você que é arquiteto e que está preocupado com o impacto ambiental da sua obra, não esqueça que melhor do que aproveitar a energia elétrica de forma eficiente em um edifício inteligente é não precisar usá-la é deixar que a natureza faça isso. Melhor que coletar energia através de um painel solar para depois transformar em créditos para subsidiar a agricultura, é dar à natureza a chance de usar esta mesma energia de forma muito mais eficiente para produzir infinitos benefícios que nem podemos enumerar.

Precisamos mudar o mundo, precisamos mudar nossa cultura, precisamos deixar um legado de oportunidades para nossos filhos, e isso requer coragem, determinação, e acima de tudo humildade. Somos parte da natureza vamos trazê-la para nossos lares.

Vamos convidar a mãe natureza para morar com a gente!

Autoria/créditos:

Ézio Moura Rinaldi

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About Oscar Müller

Arquiteto, urbanista, brincante.

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