São Paulo sofre com a impermeabilização extremada de seu solo que, somada ao importe da água para consumo desde outras bacias hidrográficas, entre outros fatores, contribui para as enchentes nas quais os habitantes da cidade são vítimas constantemente.
Ora, a bacia hidrográfica paulistana, com tantos rios soterrados e superfície quase que totalmente impermeabilizada, ainda precisa lidar com o volume alheio de água importada, e precipitações que tem se apresentado cada vez mais fortes, e com características inéditas. Neste contexto é impossível lidar com o problema depois que o volume precipitado já alcançou o sistema de captação, mesmo que se multiplicassem os piscinões existentes. É preciso combater o problema antes (incluso ainda no âmbito particular), por um lado reduzindo o uso da água tratada, por outro absorvendo, retardando, e potencializando a evaporação da água precipitada.
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Objetivando mitigar este problema, muitas cidades tem elaborado leis preservando parcelas de solo permeáveis, e adotando incentivos para a adoção da solução de coberturas vivas, que além do seu papel na retenção da água precipitada, ainda oferece outras benesses, contribuindo no sequestro de carbono, e purificando o ar; impedindo a reflexão dos raios infravermelhos, agravante do efeito estufa; aumentando a umidade relativa do ar, em decorrência da evapotranspiração; amenizando a temperatura nas ilhas de calor; contribuindo na estética urbana com o visual paisagístico; retendo partículas do ar prejudiciais à respiração; e reduzindo o volume de água a ser drenada, minorando as enchentes urbanas.
Como demonstram os estudos elaborados a partir de prototipagem desenvolvida por ambientalistas da Divisão de Sanitária e Meio Ambiente do Instituto de Engenharia de São Paulo, uma cobertura viva com 55cm de altura pode reter até 52% do volume da água precipitada, retardando o início de seu escoamento em até 20 minutos, e levando este a cabo somente após 3 horas, com óbvios efeitos em relação às enchentes que invariavelmente acontecem, sempre que a precipitação excede a capacidade de escoo do nosso sistema.
Tramitam na Câmara de São Paulo projetos de lei tratando do assunto, que merecem mais atenção do Poder Público, ora por obrigar esta solução em detrimento de outras também ecológicas e importantes para o futuro da nossa cidade (como as coberturas de captação de energia solar, ou de eficiência passiva), ora por não exigir que estas áreas de solo criado se dêem em adição aos percentuais já obrigatórios para o solo existente, tornando o intento inócuo.
Em São Paulo, a adoção sistemática desta solução pela administração ofereceria novas áreas qualificadas, retalhos verdes na tessitura urbana que formariam um passivo positivo, capaz de ser alinhavado auxiliando na criação de uma nova camada de uso. Teria ainda efeito potencializado, se esta se utilizar de reuso e reciclagem de resíduos (especialmente com o recurso dos Equipamentos Móveis de Recuperação Urbana) na produção em parceria com a iniciativa privada de elementos pré-fabricados, não somente para seu próprio uso, mas também ofertados para a população em geral, com uma relação de custo benefício ambiental excelente, posto não só que hoje já existe produção paulistana baseada em reciclagem para todos os componentes necessários (até mesmo impermeabilizantes feitos a partir de pneus reciclados), como também que o incremento na atividade de reciclagem absorve mão de obra pouco qualificada, ainda gerando frutos de ordem cultural.
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A aplicação da solução em novas edificações pode se dar apenas a partir da obrigação legal, mas é na requalificação dos imóveis existentes que estão os maiores benefícios para a população, uma vez que a facilitação e incentivo pelo Poder Público, apoiado em legislação pró-ativa, também poderia instrumentar a inserção destas edificações na legalidade, interrompendo o perigoso processo de adensamento decorrente da expansão vertical na autoconstrução, que é típica na cidade.
O esforço na direção do solo criado em pequenas parcelas isoladas pode parecer pouco efetivo, mas é preciso avançar na conscientização de que o problema é tão coletivo quanto sua solução.
Texto da Synarqs com sugestões para a cidade de São Paulo, que podem ser analisadas por e para outras cidades.